quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Divagar Entre Linhas

Deixei de escrever contos de fadas porque são mera fantasia e a fantasia é sobrestimada. Porque as palavras de algodão-doce me ofuscam o julgamento, me fazem esquecer a realidade por instantes, me despertam um desejo sem medida de gritar os 5 sentidos em letras. Deixei de escrever contos de fadas pois abalam a minha muralha, atacam os meus sentinelas e invadem a minha lógica sem misericórdia, levando consigo toda a razão com a qual se cruzam. A minha escrita confunde quem a lê, pois sonha mais alto que o meu falar e mostra de mim o que só os olhos transparecem e o que só os bons observadores vêem neles. Para bom entendedor meia palavra basta, mas para ela meia palavra não é suficiente. Não se rende nem a essas criaturas. Esgravata a terra do local inóspito de mim mesma onde a enterrei e procura a superfície, dando de si de tempos a tempos, dominando os meus pensamentos e as minhas mãos, forçando o meu divagar e fazendo-me contrariar a gravidade. Constrói, ela só, um conto de fada, nem que seja numa banalidade... Esse conto que tanto me frustra, que tanto engana, que tanto mente. Deixei de escrever porque me adormece e eu preciso de estar desperta, atenta e alerta. Deixei de escrever porque me magoa o quanto a realidade difere do mundo que quero escrever. Deixei de escrever porque preciso de agarrar com força essa realidade.

Mas tenho tanta saudade de adormecer...

segunda-feira, 18 de julho de 2011

New Beginnings

Pegar em malas, enchê-las de roupa, encher-me de coragem, gritar o nó que aperta o meu esófago e sair. Para onde? Para quando? Para quê? Não sei, não importa, não faz diferença. Deixar para trás as atitudes erradas, as atitudes certas, as atitudes que deviam ter sido e não foram, os pensamentos que houve e não deviam, os que deviam e não existiram, os sorrisos que soltei e os que podia ter solto, as lágrimas que caíram e as que guardei para mim, as pessoas que conheço, conheci e as que podia vir a conhecer. Renovar. Ir, acompanhada pela bagagem e pela liberdade de não ter destino, fosse para onde fosse. Qualquer lugar onde a minha face fosse nada mais que a face de uma desconhecida. De uma pessoa sem história, sem acções certas, nem erradas, sem nada por ou para provar. Uma cara na multidão, que passa despercebida, que não é alvo de julgamentos, de juízos de valor, de opiniões. Cair num sítio incógnito, onde tudo é uma aventura, uma descoberta, uma novidade. A tranquilidade de poder respirar fundo sem sentir o peito pesado com a pressão do passado, de poder sentir o ar encher os pulmões no seu todo pela primeira vez desde há muito. Poder abrir os braços, virar a cara para o azul imenso que nos subjuga lá do alto, fechar os olhos e esquecer. Limpar do sistema o sangue manchado de derrotas, de enganos, de renúncias. Renascer. Colocar no lixo a folha rasurada, amachucada, rasgada e gasta na qual se tornou a vida nos últimos anos e pegar numa nova. Limpa e lisa, por moldar, por conhecer e por encher de sonhos. Recomeçar. Pegar em malas, enchê-las de roupa, encher-me de coragem, gritar o nó que aperta o meu esófago e sair. Para onde? Para quando? Para quê? Não sei, não importa, não faz diferença.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Demasiado

Demasiado vazios para pensar sozinhos, demasiado inseguros para viverem sem o outro, demasiado agarrados à imagem para mostrarem o que sentem, demasiado incertos sobre as suas opiniões para debater, demasiado desapegados a si mesmos para lutarem pelo que querem, demasiado inconscientes para saberem o que vale a pena, demasiado... Há demasiadas pessoas que são demasiado pouco.

Dom?

Somos todos dotados de sentir, queiramos ou não queiramos. Não sei até que ponto é correcto referir-me ao sentir como um dom, ao invés de lhe chamar uma patologia incurável, mas o facto é que não sentindo, também não somos. É, efectivamente, o acto de sentir que nos distingue entre nós e nos une a todos. É tão impossível fugir disso, como é impossível não rir, nem que seja por dentro, de algo ao qual achamos piada. Uns fazem-no na flor da pele, outros nos confins da mente, mas todos o fazemos. Considero-me um intermédio, não tão oito, nem tão oitenta. Algures entre o sentir, pensar e redefinir esses sentimentos. Desde sentir incapacidade para atingir um objectivo, cansaço devido ao meio para atingir o fim, até dúvida e insegurança de mim mesma e por aí além. Mas procuro a redefinição. Porque controlando o que sinto, controlo o que, quem e como sou. Será que só sendo capazes de masterizar a arte de dominar tudo o que sentimos, podemos afirmar que esta condição é um dom? E até que ponto é benéfico? Será que interessa de todo o benefício?

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Mas qual é a necessidade afinal?

Mas qual é a necessidade de adulterar, contornar, mentir, eufemizar, jogar... Porque raio é que as pessoas vivem em constante infidelidade consigo mesmas? Para onde foi a capacidade de ser real, de ser honesto, de ser directo e de confrontar? Como é que tão bruscamente dou por mim a ganhar noção de que ninguém é verdadeiro e de que eu era apenas mais uma uva no meio de uma vinha? De que eu era apenas um outro exemplo de alguém que corre sempre para o lado oposto do ser genuíno, que foge sempre do ser frontal? Já fui farinha do mesmo saco, mas abstenho-me desse conjunto. Sou da farinha que transbordou. Qual a necessidade de usar mesquinhez para atingir objectivos dentro do meio social? Que raio de animais somos nós afinal? Tão impuros, tão vazios, tão opacos, tão pouco individuais, tão pouco originais, tão nada... Racionalidade, mas pouca.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Já acredito em tudo

Sou apoiante de uma política pessoal que dita a seguinte regra base (que creio até já ter referenciado aqui por posts anteriores): Se não esperares nada, mais facilmente te surpreendes pela positiva do que esperando algo. Parece-me tão óbvio quanto o resultado da soma de 1 com 1. No entanto, dou por mim a tirar a cabeça da ponderação e a cair no erro de ter esperança. O resulto, qual é? O esperado. Essa espera, pelo menos, raramente falha e é das poucas das quais não abdico, o que me levou a fazer algumas modificações à minha teoria ou, no mínimo, à forma como a exponho. Caio no erro de arriscar, esperando um resultado e tendo esperança de que dê num diferente, acabando por constatar efectivamente que o resultado esperado é o que se mostra no final. Acrescento, com isto, um ponto crucial à minha regra base: Se não esperares nada, mais facilmente te surpreendes pela positiva do que esperando algo. No entanto, se esperares sempre pela negativa, o resulto só pode ser o que esperavas ou positivo.

Um passo mais perto.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Há forma de fugir?

Não. Cometemos os erros que cometemos e somos punidos por isso, nem que seja pelo simples facto de termos que viver com eles na nossa consciência. A melhor solução, na minha opinião, é usar esses erros como base de molde do nosso carácter. Porque a verdade é que o que já fomos, não podemos apagar, mas o que seremos daí em diante depende de nós e de nós apenas. A verdade é que não sei ao certo o que quero ser mas, graças aos meus próprios erros e aos erros de outrém, sei exactamente o que não quero ser. Há poucos que o compreendem e ainda menos que o fazem, mas àqueles que vivem como eu vivo: Um brinde ao nosso amor a nós mesmos e à nossa necessidade na definição da nossa personalidade.