quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Citação

Diz-se que nao há efeito sem causa nem causa sem efeito, parecendo portanto que as relações entre uma coisa e outra deverão ser em cada momento, não só patentes, mas compreensíveis em todos os seus aspectos, quer consequentes quer subconsequentes.


José Saramago, Caim

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O reavivar deste blog (talvez?)

Tornou-se difícil, com o decorrer da minha vida, vir aqui largar floreados de escrita, talvez porque perdi o encanto pelas palavras que sempre senti, talvez porque perdi o toque de Midas de qualquer amante da escrita de transformar as palavras em melodias de sensação... Não sei. Sei que tentei vezes infinitas escrevinhar qualquer pedaço de pensamento que me pudesse surgir neste espaço e de todas essas vezes dei por mim de mãos poisadas sobre o teclado e de olhos presos neste espaço branco, que deixei sempre tão vazio quanto ficava o meu pensamento. As palavras que eu tinha como calores no peito e orgasmos mentais vieram-se a transformar em meros conjuntos de letras, que soltas são nada mais que sons monossilábicos. O processo de deixar fluir o ritmo da minha escrita automática, que era pura e simplesmente o meu pensar viajado desde o cérebro até à ponta dos dedos, a passar pelo coração só para trocar de avião, tornou-se impossível. A viagem foi afectada por uma série de más condições climatéricas que a tornaram inconcebível. Contudo, aqui estou eu hoje. Pela primeira vez em largos meses, pondo aqui os meus pensamentos tal como me passam pela ideia. Pensando bem, é algo até bastante tresloucado transformar o que pensamos em escrita. Assemelha-se um pouco a ter uma conversa connosco mesmos, atitude que raramente é tomada como sã. Gostava de entender que se passou, pelo caminho do viver, para perder a escrita. Ou, pelo menos, a capacidade de a criar. Deve ter sido apenas mais um muro que encontrei no meio do caminho e que demorei a descobrir como ultrapassar. Mas creio ter ultrapassado. Será? Significará isto que voltei a ganhar sentido? Que, aos poucos, vou conseguir ver novamente beleza e valor nas palavras? Ou apenas que me conformei com o facto de significarem o que as pessoas quiserem que signifique? Quiçá acabei por aceitar que são o que são, letras ordenadas logicamente e de acordo com a nossa língua, que para mim são gritos, calafrios, gargalhadas, arrepios, e para outrém são meras letras ordenadas logicamente e de acordo com a nossa língua. Enfim, desconheço o que terá acontecido, mas reconheço que por breves momentos voltei a sentir o escrever. Embora não tão cornucópico quanto o sentia ser, ainda está cá, gritando baixinho. Ouvi-o agora, por breves, breves momentos. Será que o vou ouvir de novo?