quarta-feira, 29 de julho de 2009

Sem Título XI

Os meus pés agarram-se ao chão e a minha mente com eles. Juntos caminham pelo efémero da vida. Um com a física, outra com a fantasia. És o caminho certo, és o fantástico. És magia pura, nascida das mãos de um viver magoado a quem foi partido o coração. Se não posso ir para trás, nem ir para a frente, então, por favor, sê as minhas asas e ajuda-me a voar. Ajuda-me a sentir. Ajuda-me a sobreviver. Sê.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Ela IV

Quase que a afogam, os seus pensamentos. Pensa no ontem, pensa no hoje, pensa no amanhã. Não há opção possível, tudo tem o seu quê de perfeito. São incessantes as perguntas que põe a si mesma, como se as pusesse a outrem, acabando por descobrir tristemente que não tem as respostas que procura. Ou tem, mas não quer viver com elas. Ou tem, mas sabe que não são correctas. Esforça-se por criar uma relação simbiótica entre o sentir e o precisar, mas inconscientemente denota em si a incapacidade de o fazer, pelo menos agora. Sabe o que sente, sabe o que precisa, mas não consegue encontrar ambos no mesmo lugar. Algo fez com que tudo assim se tornasse, e ela não sabe o que é. Não sabe se foi ela, não sabe se foi o momento, não sabe se foi a vida. As respostas continuam a não satisfazer a sua sede de evolução, pois simplesmente se tornam num presente e futuro inatingíveis. Interiormente, ela sabe o que deseja e sabe o que é o melhor para si, mas não quer aceitar nenhum desses caminhos. Quer que eles sejam um único caminho. Mas não são. As questões saltitam e ressaltam com uma insistência insaciante. Ela tem as respostas correctas nos recantos da sua consciência. Só não quer aceitá-las.

sábado, 25 de julho de 2009

Herman José . Canção do Beijinho


Ai rapariga, rapariga, rapariga
Que só dizes disparates, disparates, disparates
E tanta asneira, tanta asneira, tanta asneira
Que p'ra tirar tanta asneira não chegam cem alicates.
Mas tu não sabes, tu não sabes, tu não sabes
Que isso de dar um beijinho já é um costume antigo
Ai quem te disse, quem te disse, quem te disse
Que lá por dares um beijinho tinhas de casar comigo.

- Ó chega cá...
- Não vou.
- Tu és tão linda...
- Pois sou.
- Dá-me um beijinho...
- Não dou.

Interesseira, convencida, ignorante, foragida,
Sua burra, és a miúda mais palerma, camelóide que eu já vi,
Mas por que raio é que tu queres os beijinhos só p'ra ti?

Ora dá cá um e a seguir dá outro,
Ora dá mais um que só dois é pouco
Ai eu gosto tanto e é tão docinho
E no entretanto dá mais um beijinho.

Ai rapariga, rapariga, rapariga,
Dás-me cabo do miolo, p'ra te levar com cantigas.
Ai mas que coisa, mas que coisa, mas que coisa,
Diz lá por que é que não és como as outras raparigas.
Quando eu pergunto se elas me dão um beijinho,
Dão-me tantos, tantos, tantos, que parecem não ter fim
E tu agora estás com tanta esquisitice
Que qualquer dia já queres e não sabes mais de mim.

- Dás ou não dás?...
- Não e não.
- Então dou eu...
- Oh! isso não.
- Dá-me um beijinho...
- Não dou não.

Não dás porquê, sua esganada, egoísta, malcriada,
Sua parva, só se pensas que eu acaso tenho a barba mal cortada
E vê lá se tens receio que a boca arranhada.

- Então vá lá...
- Já disse.
- Eu faço força...
- Oh! que parvoíce.
- Dá-me um beijinho...
- Oh! que chatice.

Analfabruta, pestilenta, hipocondríaca, avarenta, bexigosa,
Vou comprar um dicionário que só tenha nomes feios
Que é p'ra eu tos chamar todos até teres os ouvidos cheios.

domingo, 19 de julho de 2009

Momentâneo.

Nunca um momento devia fazer de nós alguém diferente do que somos. Nunca um momento devia ser suficiente para julgar uma pessoa. Nunca um momento deveria ser suficiente. As opiniões criam-se com a investigação. É contra o natural opinar acerca de um assunto sobre o qual nada sabemos, e isso deveria ser aplicável no dia-a-dia, com as pessoas que nos rodeiam. Eu sou o que poucos conhecem, o que muitos adorariam se conhecessem e o que muitos detestariam se conhecessem. Mas sou o que poucos conhecem, e não deixarei que um momento mude o que eles pensam conhecer ou dê a conhecer a outros algo que não é real. O conhecer não pode ser momentâneo.