segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sem título XIII

"Depois da tempestade, vem a bonança", é o que apregoa o ditado popular. Gostava de poder conhecer a personagem que, na sua época e na sua realidade, começou por proferir tal conjunto de palavras. Gostava de poder perguntar-lhe, já que dita pessoa teve a capacidade de criar esta frase tão de esperança, quão depois do desastre vem a calma. Certamente que, para sentir que o bem acaba por seguir o mal, teve que passar por uma ou variadas situações que o provassem, nem que seja para conseguir transformar uma frase provavelmente tão randomizada num ditado popularíssimo, tão espalhado por bocas alheias. Para o ter dito dessa forma tão espantosamente cheia de positivismo, tão ouvida e tão decorada, há-de ter acreditado verdadeiramente que é um facto e não só um aconchego. Queria conhecer essa mítica pessoa, só para lhe perguntar ao certo quando vem essa mencionada bonança. Seria muito mais fácil a espera sabendo que vem sem sombra de dúvida. Quanto maior a espera, maior o tempo para raciocinar, maior o tempo para questionar, maior o tempo para duvidar. Facto é que a esperança provêm de querermos algo ao ponto de acreditar, após tudo o que é material e imaterial nos dizer o contrário, que vai acontecer. Esperança é, como a própria palavra dá a entender, esperar (e contentarmo-nos com a espera). Esperança é o que oferece esse mesmo ditado, fazendo acreditar que há-de chegar o que tanto esperamos. Mas que autoridade teve essa pessoa para criar tal regra divina? Que autoridade teve essa pessoa para aumentar esperanças que, na maioria dos casos, não passam disso mesmo? Esperanças. Esperanças e não realidades. A esperança não necessita de fundamento, mas faz muito mais sentido quando o tem. Infelizmente, provêm do nosso querer imenso, e o querer nem sempre tem fundamento. Pior de tudo é que, mesmo quando o tem, nem sempre é realizável. Mas nós continuamos, esperançados! Porque depois da tempestade vem a bonança. Virá? É que a espera já se torna longa... E esperar sem saber quando chega é algo mais agonizante do que saber quando vem. Oferece tempo para pensar. E eu cada vez mais penso, "será que a bonança chega mesmo?""