domingo, 30 de agosto de 2009

Deolinda . Movimento Perpétuo Associativo

A crítica ao povo português mais divertida que já vi.



Agora sim, damos a volta a isto!
Agora sim, há pernas para andar!
Agora sim, eu sinto o optimismo!
Vamos em frente, ninguém nos vai parar!

-Agora não, que é hora do almoço...
-Agora não, que é hora do jantar...
-Agora não, que eu acho que não posso...
-Amanhã vou trabalhar...

Agora sim, temos a força toda!
Agora sim, há fé neste querer!
Agora sim, só vejo gente boa!
Vamos em frente e havemos de vencer!

-Agora não, que me dói a barriga...
-Agora não, dizem que vai chover...
-Agora não, que joga o Benfica...
e eu tenho mais que fazer...

Agora sim, cantamos com vontade!
Agora sim, eu sinto a união!
Agora sim, já ouço a liberdade!
Vamos em frente, e é esta a direcção!

-Agora não, que falta um impresso...
-Agora não, que o meu pai não quer...
-Agora não, que há engarrafamentos...
-Vão sem mim, que eu vou lá ter...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

domingo, 23 de agosto de 2009

Demais! II

Se não tiveres nada
e te derem o Universo,
achas que por acaso
preferirás ter o inverso?

domingo, 16 de agosto de 2009

Sara Beirelles . Gravity

Deolinda . Eu Tenho Um Melro



Eu tenho um melro
que é um achado.
De dia dorme,
à noite come
e canta o fado.

E, lá no prédio,
ouvem cantar...
E já desconfiam
que escondo alguém
para não mostrar.

Eu tenho um melro,
lá no meu quarto.
Não anda à solta,
porque, se ele voa,
cai sobre os gatos.

Cortei-lhe as asas
para não voar.
E ele faz das penas
lindos poemas
para me embalar.

Melro, melrinho,
e se acaso alguém te agarrar,
diz que não andas sozinho
que és esperado no teu lar.

Melro, melrinho
e se, por acaso, alguém te prender,
não cantes mais o fadinho,
não me queiras ver sofrer.

E não voltes mais,
que estas janelas não as abro nunca mais.

Eu tenho um melro
que é um prodígio.
Não faz a barba,
não faz a cama,
descuida o ninho...

Mas canta o fado
como ninguém.
Até me gabo
que tenho um melro
que ninguém tem.

Eu tenho um melro...
(-Que é um homem!)
Não é um homem...
(-E quem há-de ser?!)
É das canoras aves
aquela que mais me quer.

(-Deve ser homem!)
Ah, pois que não!
(Então mulher…)
Há de lá ser!?
É só um melro
com quem dá gosto adormecer.

Melro, melrinho...[refrão]

E não voltes mais,
que a tua gaiola serve a outros animais.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sem título XII

O caminho é em frente. Cabeça erguida, sem olhar para trás. Tudo o que sou, tudo o que fiz, tudo o que serei, devia ser suficiente. Se não é, é porque eu sou melhor que isto.

domingo, 9 de agosto de 2009

Bajofondo . Cristal

Um das minhas recentes paixões musicais. Nada é mais bonito do que as infinitas sensações que as músicas destes artistas provocam num corpo.

Divago pelas horas mortas de uma noite calma. O tempo corre sem se dar por ele, sempre discreto, sempre no seu canto. Vejo numa canção todo um momento, toda uma situação, toda uma vida... Cada instrumento é um sorriso, uma lágrima, um grito ou uma gargalhada. Cada alteração de tom é um abraço, um adeus, um beijo. A vida corre como as horas, discreta, sem deixar que demos por ela. Cada dia é um novo aprender, um novo sentir, um novo pensar. Somos um acumular de experiências que ela nos proporciona. Sinto que esta canção poderia ser uma banda sonora do meu viver. Sinto que dançá-la seria como fazer uma peça de teatro, onde a personagem principal sou eu e o enredo são todos os acontecimentos que me fizeram e fazem ser o que sou e como sou. E a vida é efémera. Estamos aqui, actores desta peça em constante improviso. Não pensamos no frágil que é a nossa existência, no quão pouco nos é garantida. Existimos hoje, amanhã podemos não existir. A vida é efémera. A vida é frágil. A vida é Cristal.