Deixei de escrever contos de fadas porque são mera fantasia e a fantasia é sobrestimada. Porque as palavras de algodão-doce me ofuscam o julgamento, me fazem esquecer a realidade por instantes, me despertam um desejo sem medida de gritar os 5 sentidos em letras. Deixei de escrever contos de fadas pois abalam a minha muralha, atacam os meus sentinelas e invadem a minha lógica sem misericórdia, levando consigo toda a razão com a qual se cruzam. A minha escrita confunde quem a lê, pois sonha mais alto que o meu falar e mostra de mim o que só os olhos transparecem e o que só os bons observadores vêem neles. Para bom entendedor meia palavra basta, mas para ela meia palavra não é suficiente. Não se rende nem a essas criaturas. Esgravata a terra do local inóspito de mim mesma onde a enterrei e procura a superfície, dando de si de tempos a tempos, dominando os meus pensamentos e as minhas mãos, forçando o meu divagar e fazendo-me contrariar a gravidade. Constrói, ela só, um conto de fada, nem que seja numa banalidade... Esse conto que tanto me frustra, que tanto engana, que tanto mente. Deixei de escrever porque me adormece e eu preciso de estar desperta, atenta e alerta. Deixei de escrever porque me magoa o quanto a realidade difere do mundo que quero escrever. Deixei de escrever porque preciso de agarrar com força essa realidade.
Mas tenho tanta saudade de adormecer...
Mas tenho tanta saudade de adormecer...
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