domingo, 23 de novembro de 2008

Boomerang

Quem diz que as amizades são eternas, claramente não vive no mesmo planeta que eu. Elas vão e voltam como jovens boomerangs atirados pelo decorrer da minha vida. Às vezes nem preciso de atirar muito longe, ele simplesmente vai embora sozinho. Amizades que tive, essas, muitas delas passam por mim e não me reconhecem. Não reconhecem o que sou hoje, mas sim o que fui ontem. Não reconhecem esta faceta mais atenta de mim. Cresci em mil e nove sentidos, minguei em outros tantos, e ainda assim preservei a essência que carrego desde que o andar era apenas um sonho. Mantive-me. E essas amizades... Essas amizades transformaram-se num algo irreconhecível. Anos de crescimento passados lado a lado, frente a frente, e agora dou por mim apenas a vivê-los em memória. Desde os sorrisos, ao chorar a rir, ao chorar por chorar, ao correr por correr, ao saltar como se o céu não fosse inalcançável, só porque tudo na vida era mais bonito e mais geometricamente simples. Não existiam pentacontágonos no mundo, tudo era feito de triângulos e quadrados. As decisões faziam-se em três segundos, porque eram demasiado fáceis para demorar mais a ser feitas. A espontaneidade era a nossa principal preocupação inconsciente.
Passei por amizades que não esqueci. Amizades de quantidade reduzida mas de elevada importância, que me ajudaram a viver experiências que hoje conto com um sorriso aberto e com os olhos no passado, que me ajudam a rir só por lembrar. Vivem-se anos, vivem-se histórias, e vivem-se para nada. Vivem-se para que sejam só uma altura da vida, e não a vida em si. Hoje estou aqui, a ser quem e como sou, graças aos momentos que tive com essas amizades, e aos que tenho com as amizades de hoje. Entre as amizades de hoje encontrei amores fraternos e não fraternos que não tenciono nunca largar. Porque como as amizades que me fugiram me marcaram, também estas marcam. Mas estas, não as largarei. Se a vida quer que os nossos caminhos sejam diferentes, a vida o terá. Mas caminhar só o fazemos com os passos, o escrever faz-se não só com as mãos, mas também com a alma. E isso a vida, só muito injusta e cruelmente, é que nos pode tirar.

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