quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Brutal atracção

Brutal Atracção

Sentimento que se sente
Mas não se ouve
Não se vê
Ele não se move

Resguarda-se no coração
do mais calmo peito
Brinca com os pensamentos
Para seu próprio deleito

Não dá sinal de vida
Até que tarde demais seja
Anuncia a sua existência
Oferecendo o medo de bandeja
Bruscamente rouba qualquer inocência
A mais preservada ou a mais perdida

Assusta com a indiferença
Chantageia com o abandono
Cria na alma toda e mais alguma crença
Sem se esquecer de proclamar a sentença:
Um erro menor pode roubar-nos do coração o dono.

Obriga a acção
Sem nos dar o tempo de meditar
Comanda o corpo
como se ele mesmo o fosse
Agimos sem no que fazemos acreditar
Ficamos a desejar que ele estivesse morto,
Que viesse a capa negra e o levasse pela foice

Consegue que o amargo saiba a doce
Que o errado seja certo, embora brevemente
Enquanto o vivemos, interiormente sorrimos
Mas no dia seguinte vem o arrependimento
Que de nós rouba a felicidade
E de repente, nada sentimos
Para além do amargo erro que é a verdade.

À nossa volta vemos nada
Embora lá esteja tudo
Existe apenas a situação criada
Por aquele sentimento que age pela calada
Que é cego, surdo e mudo
Mas que canta mais alto que uma cigarra
Fazendo-nos perder tudo
Fazendo-nos ficar sem nada

O dono a quem o coração pertencia
Foge magoado pelo sentimento,
Pela sua mão austera e fria,
Pelo causado sofrimento
Que tanto o seu dono temia.

Caem as lágrimas dos olhos ao pescoço
Aperta o peito num movimento de dor
Sente-se a pedra fria do fundo do poço
Que embora exista na cabeça e não na realidade
Nos faz largar por nós todo o amor
E nos faz odiar o sentimento pela sua brutalidade
Pela sua capacidade de nos roubar o pudor
De tirar do nosso ser o que faz a distinção
Entre o que está errado e o que não
Entre o que é justo e o que não merece perdão.

Abrem-se os olhos
E tudo existe onde antes existia
Escorre o suor frio aos molhos
Desde a face até aos soalhos
Mas tudo existe onde antes existia
Aquele que as lágrimas cria
Que causou tanto sofrimento
Aquele! O maldito sentimento,
Estava agora desaparecido
Não chegou a ser mais do que um momento
No meio de um sono mal dormido.

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